quarta-feira, janeiro 02, 2013

O Eu e o Nós

É corrente e correto o pensamento de que para cuidar bem dos outros precisamos cuidar primeiro de nós mesmos. Mas nada melhor para crescermos como pessoa do que olhar para os outros, aprender com alguns e ensinar a outros, ajudar a muitos, abençoar a todos.

Frequentemente estamos com os olhos voltados somente para nós. É difícil incluir o outro no nosso mundo, é difícil ver o mundo sob a perspectiva alheia.

Hoje estava meditando na oração do Pai nosso. Quão sábios foram os discípulos ao pedir a Jesus que os ensinasse a orar! Que bom que o fizeram! E como sempre Jesus foi muito simples, muito claro e até mesmo muito resumido na lição. Ele não ensinou palavras difíceis, frases complicadas ou mesmo uma oração que precisássemos de horas para falar tudo. A prece que nos deixou é breve e de muito fácil compreensão.

Tecerei alguns comentários bem breves a esse respeito e espero que, depois de ler, você compreenda melhor e queira seguir sempre esse modelo de oração.

O Pai Nosso  traz três pedidos referentes a Deus, três pedidos referentes a nós mesmos. Em relação a Deus, a primeira constatação é que é necessário que Seu nome seja santificado. E como procede de Deus o querer e o efetuar, pede-se a Ele que o santifique. Por que o nome de Deus deve ser santificado? Porque isso resultará em benefício para todo universo. O Salmo 19 nos diz que os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. O capítulo 1 de Romanos diz que as pessoas são inescusáveis quanto ao reconhecimento de que existe um Deus e de Seu senhorio, porque a própria natureza revela que Ele existe. Quando estamos pedindo ao Senhor que seu nome sejasantificado, estamos dizendo: "Senhor, revela-Te ao mundo, permita que saibam que Tu és Deus, que Tu és grande, que Tu dominas sobre tudo e sobre todos". Santificar o nome do Senhor não é apenas render-Lhe homenagem. É estender Seu alcance. 

O segundo pedido é: "Venha a nós o Teu reino". Deus viu que a terra era sem forma e vazia, que tudo estava um caos e fez do mundo um lugar maravilhoso. Infelizmente nem tudo ficou como deveria. Pedir a Ele que estenda o Seu reino, que assuma o controle, que nos governe novamente é o caminho da salvação do homem e da natureza. Como Príncipe da paz, como Redentor da humanidade, como Governador do universo, nada melhor do que Ele, que o criou, para governar. Só Ele pode trazer de volta a ordem, fazer tudo funcionar adequadamente. Por que o reino de Deus precisa se estender? Porque a própria Bíblia nos diz que o mundo jaz no maligno. O que quer dizer isso? Que um sistema mundano, que um sistema maligno, está dominando a terra. Esse domínio vai passar, esse tempo vai ter fim, mas ainda não acabou. Satanás está no governo, mandando em tudo? Não em pessoa, mas através de pessoas que, sob sua influência, estão fazendo todo tipo de mal. Cinco minutos em frente a algum jornal são suficientes para termos todas as notícias ruins que nem gostaríamos de saber.

Terceiro pedido: "Seja feita a Tua vontade". Qual é a vontade de Deus? Sempre o melhor. A Bíblia nos revela que Sua vontade é boa, perfeita e agradável. Se a vontade de Deus estivesse sendo feita, viveríamos uma festa na terra, as coisas estariam caminhando exatamente como deveriam, estaríamos muito bem, desfrutando daquela vida em abundância que Ele projetou para nós. Se isso não acontece, é porque as coisas não estão como Deus planejou. O versículo continua dizendo: "Que seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu". Há ordem no céu, há beleza no céu, há alegria no céu. É assim que Deus quer que a terra esteja. 

Depois desses três pedidos referentes a Deus, há outros três relativos a nós mesmos. O primeiro: "O pão nosso de cada dia nos dá hoje". O que está sendo proposto aqui não é que peçamos a Deus apenas o necessário. Não. É muito mais que isso. É que todas as nossas necessidades físicas sejam supridas. Deus sabe do que necessitamos. Então, por que nos incentiva a pedir? Porque isso nos traz paz ao coração. Na verdade, isso funciona muito mais para nossa paz, do que para fazer Deus lembrado, porque Ele não se esquece. Como um bom pai cuida de um filho, Deus cuida de nós - aliás, muito melhor.  Deus já nos acompanha, já nos protege, Deus já nos guarda, mas nosso coração é inundado pela sua paz quando conseguimos expor a Ele aquilo de que necessitamos.

Depois vem o pedido que refrigera a alma: "Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores". Já ouvi pregadores dizerem que seremos perdoados como perdoamos. Não é isso o que Jesus quer dizer. O perdão de Deus a nós não tem nada haver com que nós fazemos ou deixamos de fazer; é um ato gratuito, unilateral, decorrente apenas da graça de Deus sobre nós. A realidade é que quando aceitamos a Jesus, já fomos perdoados, mas ser e sentir-se é diferente. À medida que perdoamos, nós conseguimos nos sentir perdoados. Muito da nossa falta de paz, vem do fato de não termos paz com nós mesmos. Somos nós que colocamos pesados fardos sobre as nossas costas. Por isso Jesus nos convida: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão" (Gl 5:1).

O último pedido diz: "Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal". Olhe só o que diz o livro de Tiago: "Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta" (Ti 1:13). Esse pedido equivale a rogar a Deus que nos livre de todas as situações que possam nos causar embaraço, que estejamos livres de qualquer coisa que possa nos levar ao pecado. É literalmente pedir a Deus que nos cerque com alegres cantos de livramento, que tire da nossa frente todas as possibilidades que se nos apresentam de nos comportarmos mal, de nos sentirmos mal, de praticarmos o mal.

Quero encerrar dizendo do pronome utilizado nessa oração. É lindo ver que todos os pedidos são feitos com o pronome "nós" e não "eu". Quando faço essa oração, não estou pedindo nada apenas para mim mesma, olhando só para mim, mas fazendo uma poderosa intercessão. Ela me faz lembrar que o Pai é nosso, que além de sermos da mesma família, fazemos parte de um reino governado por um Soberano que é puro amor, que todos precisamos de livramento, das necessidades supridas,  de ser perdoados e de conseguir perdoar. 

Tenho certeza de que este será um ano bem melhor se pararmos de olhar para nosso próprio umbigo, incluirmos os outros nos nossos pedidos, nos nossos desejos, nos nossos pensamentos, nas nossas orações. Olhar um pouco mais para o outro vai me fazer mais compassiva, mais perdoadora, mais bondosa, mais simpática, mais como Deus, que decidiu por amor a todos enviar seu Filho ao mundo para que não uma, duas, três pessoas fossem salvas, mas o mundo inteiro. Como diz a Palavra, é vontade de Deus que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. 

Que este seja o ano de olhar mais para os outros do que para nós, de crescer como pessoa. É muito mais feliz quem vive para o "nós" do que quem vive para o "eu".

Desejo muitas bênçãos sobre nós!

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