quinta-feira, outubro 04, 2012

O que fazer

A Bíblia tem histórias simplesmente extraordinárias. Gente entra, gente sai de suas páginas tão rápido! Só parando para meditar, para pensar com carinho sobre cada nome, cada história ali. Durante o tempo em que a Bíblia foi escrita, quantos milhões de pessoas não passaram pela terra? É muita gente, não é mesmo? Atualmente somos mais de 190 milhões de brasileiros e, no mundo, mais de 7 bilhões de pessoas.

Por que certas pessoas estão citadas na Bíblia é algo que me move a ler e reler. Risco, rabisco, marco minha Bíblia. Quero entender. Já sei que cada uma daquelas pessoas ali tem algo a me ensinar. Umas ensinam o que fazer e outras o que não fazer. Cresci depois que entendi isso. O importante é aprender com cada um e não julgar. De toda forma, estão me ensinando. E as mesmas pessoas podem me ensinar o que fazer em uma área e o que não fazer em outra. O ideal, então, é ser mais observadora, analisar mais, falar menos. Dizem que os inteligentes aprendem com a própria experiência, os sábios aprendem com a dos outros. Não preciso sofrer o que outros já sofreram para aprender se eu for sábia. Basta comparar atos e resultados.

O personagem de hoje é José, o marido de Maria, mãe de Jesus. Já escrevi sobre ele aqui no blog, mas permita-me fazê-lo novamente!

A história de José começa com ele de casamento marcado, com grandes expectativas de receber sua esposa. E a gente sabe muito bem o que esse “receber” abrange. Lembro-me de que, alguns meses antes do meu casamento, eu havia iniciado uma contagem regressiva. Sempre que via o Ricardo dizia: faltam duzentos dias, faltam cem dias, faltam noventa dias... Eu e ele sabíamos exatamente quanto tempo faltava sempre. Será que com José foi diferente? Será que sua espera foi mais ou menos dolorosa que a minha?

Enquanto esperava, a vida seguia devagar até que algo surreal aconteceu: Maria estava grávida. Aí começa o livro de Mateus a mostrar a grandeza desse homem que mereceu um cargo de tanta confiança: “pai” do Salvador. Ele pôde ver como era Deus bebê, Deus menino, Deus adolescente – aos doze anos, Jesus foi procurado por José e Maria quando estava no templo –e nem sei o que mais viu, porque a Bíblia não diz quando morreu.

Apesar de saber que sua futura esposa estava grávida e não era dele, resolveu deixá-la secretamente para que não falassem dela. “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente (Mt 1.18,19). Preste atenção na palavra que está escrita aí: infamar. Não é difamar, que significa falar mal. Mas infamar, assim definido no Aurélio: “atribuir infâmia, perda de boa fama, dano social ou legal feito à reputação de alguém”. Ele poderia até considerar merecida a nova fama, mas preferiu ficar calado.

Por muito menos, casais que se separam botam a boca no trombone. Outro dia li na Internet uma famosa atriz dizer que seu marido, com quem esteve casada por mais de quinze anos, nunca foi um bom marido. Como assim? Será possível uma coisa dessas? Foram os momentos ruins tão mais significantes assim que os bons? Vale a pena se concentrar no negativo? Quantas pessoas não têm prazer em serem as primeiras a saber de um escândalo: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18.7)

José resolveu não ser portador de más notícias. Calou-se num momento crucial. Ah, como ele tem coisas a me ensinar! Como preciso aprender a me calar em momentos de decepção. O normal no mundo é “botar a boca no trombone”. E o que quer dizer isso mesmo? É contar isso o mais alto e para o maior número de pessoas possível. É espalhar a notícia. E como as pessoas gostam de ouvir notícias assim! “As palavras do mexeriqueiro são como doces bocados; elas descem ao íntimo do ventre” (Pv 18.18).

Não parou por aí. José conseguiu dormir com esse barulho e sonhou: “E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.20,21).

Vamos pensar a respeito de novo. Muitas vezes vêm pensamentos à nossa mente, e são coisas muito boas, diga-se de passagem, e ficamos a nos perguntar: será que veio de Deus ou será da minha cabeça? Não foi assim que José agiu. Ele apenas acreditou. “E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus (Mt 1:24,25). Logo que despertou, José obedeceu.

Aqui quero abrir um parêntese para celebrar a gentileza de Deus. José não titubeou, não discutiu, não pediu provas; obedeceu. Gideão titubeou, discutiu, pediu provas por três vezes; obedeceu. E Deus não fala quem é mais ou menos santo, se José ou Gideão. Aceitou os dois. Tomé ainda fez um pouco pior: “Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (Jo 20.25). Deus não faz acepção de pessoas. Age com doçura tanto para com um quanto para com o outro. Quantas vezes Gideão pediu provas, foram as vezes que Deus confirmou Sua palavra e a Tomé deixou que pusesse a mão do seu lado e seus dedos nos furos de suas mãos. Como Ele é lindo, como Ele é doce! Então, “não importa” se você crê ou não. Ele está sempre disposto a fazer o que for necessário para que não nos afastemos dos Seus planos para nós, que são o melhor.

E o final dessa história toda é que José esperou Maria ser mãe para ter sua noite de núpcias. Fico sem palavras ao pensar nisso. Quanta grandeza!

Certamente se essa história ocorresse hoje o nome que lhe caberia seria dos piores. Um homem “traído” pela esposa, “fraco” por não expô-la, “mané” por não contar pra ninguém, vexame total.

Realmente nossos valores precisam mudar muito para aceitarmos o que tem valor para Deus e para compreendermos que o que para nós é perda, para Deus é ganho, que com Deus quem parece estar perdendo está mesmo é no lucro!

José, você merece mesmo um lugarzinho na Bíblia. Com você aprendo o que fazer.

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