segunda-feira, outubro 01, 2012

Absolvido

Minha vida de mãe não tem sido nada fácil. E também não posso dizer que, quando filha, as coisas eram mais simples. Não fui uma adolescente das mais complicadas, mas gente é gente – dizendo isso acho que nem preciso esmiuçar o assunto.

Sou uma admiradora do grande Rei Davi, homem sensível, humano, educado. Mas tenho de admitir o inegável fato de que ele foi um péssimo pai. Talvez você deseje perguntar, como já o fiz: como pode um pai fracassado ser chamado de um homem segundo o coração de Deus? Não são os resultados que interessam? Não se conhece a árvore pelos frutos? Aceito o desafio de pensar sobre o assunto.

Entre a ação, a intenção e o resultado há muito mais do que podemos imaginar. Há uma lei que afirma que a toda ação corresponde uma reação proporcional no sentido contrário. Isso pode ser ótimo na física, mas, nas relações humanas, não é assim tão lógico. Quem nunca disse uma coisa e obteve um resultado tão diverso do que esperava que chegou a se arrepender de ter aberto a boca? Quem nunca ficou calado e depois recebeu a pecha de ter concordado com algo sobre o qual nem se manifestou?

No reino espiritual o resultado não é tudo. Aliás, nem sempre o resultado interessa. Veja só este texto: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade (Mt 7.21-23).

Veja só como as coisas não são tão simples quanto parecem: o texto fala que as obras daqueles homens eram espetaculares - profetizavam, expulsavam demônios, faziam maravilhas -, mas eles não se fizeram conhecidos por Deus por meio delas. Na resposta de Jesus, o que eles praticavam mesmo era a iniquidade. Como pode isso? Só há uma justificativa: a intenção é o que vale na verdade. Jesus até afirmou que adultério não é apenas o ato, mas até mesmo a intenção: “Ouvistes que foi dito: não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela" (Mt 5.27,28). Por aqui fica muito claro que, enquanto as pessoas consideravam o ato em si, Deus considera o coração. Com as palavras do texto: a intenção.

Bom, este post aqui não é para fazê-lo sentir-se acusado. Ao contrário. Para ver quão impressionante foi a obra de Cristo que culminou na nossa absolvição. 

Embora façamos o mal, há dentro de nós, recriados, renascidos, filhos de Deus, um desejo muito grande de acertar. Todos nós – pais, amigos, líderes, cidadãos, irmãos em Cristo – queremos fazer o bem, desejamos ajudar as pessoas, até oramos para sermos uma bênção por onde quer que formos. Mas na caminhada erramos muito, magoamos pessoas, desconsideramos favores, perdemos oportunidades de fazer o bem, às vezes, até sem ver. Quantas vezes passei – e ainda passo – pelas pessoas sem cumprimentar! Muitas vezes estou olhando, mas não estou vendo. Minha mente está tão absorta em tantos assuntos que nem sei de fato por onde ando. 

Veja este texto: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18). Citei o capítulo 7 de Romanos aqui, mas não posso deixar de dizer que é um texto bastante problemático. As pessoas param em um versículo para justificar atitudes erradas – aliás, neste versículo aqui: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico” (Rm 7:19) –, entretanto, não estão considerando o texto na sua totalidade. O que o apóstolo quer dizer em todo o contexto do capítulo é que há em todos nós uma luta entre carne e espírito, mas ele encerra dizendo que não somos mais escravos da carne. Quem nasceu de novo não está mais preso à lei da morte, aos desejos da carne, mas à lei do Espírito da vida. Graças a Deus por isso! "Porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte" (Rm 8:2).

Esse Espírito da vida ao qual estamos sujeitos é o mesmo Conselheiro, Consolador, Espírito Santo que o Pai nos enviou. Ele sonda os nossos coraçōes e nos conhece, sabe exatamente quais são as nossas intençōes, sabe exatamente a vontade que temos de acertar, mesmo não conseguindo isso sempre. Voltando ao texto de Romanos aí de cima, "o bem que eu quero fazer", é correta a afirmação que queremos fazer o bem.

O mesmo Deus que considerou Davi um homem segundo o seu coração hoje nos considera Seus filhos amados: "Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados" (Ef 5:1). Ainda que os resultados que tenhamos obtido em muitas áreas da nossa vida sejam insatisfatórios, Ele sabe como queremos fazer a coisa certa e leva isso em consideração. Então não se condene e nem permita que outros o façam; não aceite acusaçōes - "Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8:1). 

Liberte-se da culpa e concentre-se na oportunidade que Deus concede ainda hoje de fazer a coisa certa. E lembre-se de que, ainda que o nosso coração nos acuse, Deus é maior do que o nosso coração e está sempre disposto a nos absolver. "Pois, se o nosso coração nos condena, sabemos que Deus é maior do que o nosso coração e conhece tudo" (I Jo 3:20).

Fique tranquilo: Deus é por você!

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