segunda-feira, setembro 03, 2012

Crédito

"Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobre multidão de pecados (I Pe 4.8).

Não sei como você entende esse texto, mas sei que ontem me chamou muito a atenção. Pensei nele sob uma perspectiva que nunca tinha observado. Conversemos sobre isso então.

O chamado para o amor é o assunto principal da Bíblia. Gosto de repetir uma frase: Deus não TEM amor, Ele É amor (I Jo 4.8). São duas coisas completamente diferentes. Eu tenho paciência, mas me chamar de Sra. Paciência infelizmente é um pouco demais. Dizer que alguém é alguma coisa é muito forte; é falar da sua essência, da sua marca distintiva, daquilo de mais peculiar que alguém tem.

Lembro-me de ler nos escritos de Moisés sua afirmação acerca dele próprio dizendo ser o homem mais manso da terra. E seus relatos demonstraram que isso era verdade. Várias vezes ele foi posto à prova pelo povo, por alguns que se consideravam melhores do que ele, pelos seus próprios irmãos. Sua irmã Miriam e seu irmão Arão um dia o desafiaram diante de todo o povo. Disseram: "Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu". O que eles queriam era liderar junto com Moisés, confrontar sua liderança e reparti-la entre os três. O Senhor viu isso, não gostou e puniu a ambos, de sorte que Miriam ficou leprosa. Moisés, com toda a sua mansidão, pediu a Deus pela saúde dela e o Senhor o atendeu. Em uma segunda oportunidade, o povo irritou a Deus e este propôs a Moisés fazer dele uma nova nação depois de destruir todo o povo, mas sua resposta foi magistral: ou eu vou com todo mundo ou risque o meu nome do livro da vida. Espetacular isso, não é mesmo?

Eu não ousaria dizer que sou a mais mansa da terra e nem mesmo que eu sou amor. Estou ciente de que falta um bocado, mas também estou ciente de que o amor de Deus já foi derramado no meu coração e eu posso amar as pessoas como Ele as ama. Tenho isso como meta. Estou em treinamento.

O verso acima nos dá uma ordem clara: ame aos outros, mas não de qualquer forma: ame ardentemente. Para amar ardentemente é preciso praticar um bocado, porque é a prática que nos especializa. Não sei se você sabe cozinhar, mas, mesmo que não saiba, quando começamos a praticar, vamos ficando cada vez melhores. À medida que provamos nossa comida, vamos aperfeiçoando o tempero, melhorando o preparo, escolhendo melhor os ingredientes e até mesmo nos animando a cozinhar mais, porque a prática nos leva a gostar.

Eu já falei aqui no blog sobre a importância do hábito. Quanto mais lemos, mais gostamos de ler; quanto mais comemos, mais gostamos de comer. Não sei se você sabe que muitos bebês que são amamentados por suas mães rejeitam comida no princípio. Lembro-me do Ricardo obrigando a Júlia a pôr na boca uma colherada de sorvete. Ela nem queria provar. Até hoje meus filhos não querem provar um monte de coisas gostosas.

O amor também precisa ser praticado até passar a ter sabor na nossa vida. Quanto mais damos, mais gostamos. E como se pratica o amor? Com exercícios diários das atividades descritas em I Coríntios 13: o amor é paciente, não sente ciúme, não torna o mal por mal, não é inconveniente, é bondoso...

O texto aí de cima diz que o amor cobre uma multidão de pecados. Sempre li isso pensando na capacidade de perdoar. Se amo alguém, devo me esquecer de todos os seus erros, perdoar setenta vezes sete num único dia. Ontem, porém, compreendi esse texto por outro prisma. Quando amo alguém, o fato de amar faz com que uma multidão de pecados meus sejam perdoados. É um antídoto poderoso contra o pecado. A Bíblia pergunta: "Quem há que possa discernir as próprias falhas"? Erramos em muitas coisas. Pecamos muito, mas, se amamos ardentemente, podemos ficar tranquilos, porque temos um lastro.

O amor é como um crédito que temos na nossa conta. Fazemos dívidas, gastamos, gastamos, gastamos, e o amor é o recurso que nos permite saldar essas dívidas. Veja que uma moedinha de amor vale muito, mas muito mesmo: cobre multidão de pecados. Uma multidão de pecados são muitos pecados, não é mesmo?

É fácil entender porque essa moedinha vale tanto, como um dia já valeu o dólar, o ien ou o euro: na verdade, quem ama peca menos, porque tolera mais, não sente inveja, ciúme, não se ira com facilidade. O amor é um anticorpo muito poderoso contra a bactéria do mal, o vírus do pecado.

Acho engraçado ver como dinheiro atrai dinheiro. Quem ganha muito tem privilégios de não pagar administração de conta corrente, anuidade de cartão de crédito, tem bônus, prêmios, descontos. Não deveria quem tem menos receber esses benefícios? Mas sabemos que não é assim.

Com o amor ocorre o mesmo. Quanto mais se ama, mais se é amado; quanto mais se ama, menos se tem pecado - até rimou; quanto mais se ama, mais crédito se tem. O amor não é um benefício para os outros, mas um salvo-conduto para nós mesmos.

Ame muito, ardentemente, de todo coração! É bom ter crédito na conta.


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