quarta-feira, março 21, 2012

Tire suas próprias conclusões

Quanto mais conheço a Deus, mais me apaixono por Ele. Embora saiba tudo, conheça os pensamentos e propósitos do coração e possa facilmente manipular qualquer pessoa, escolheu não fazê-lo. Respeita-nos mais do que nós mesmos. Aceita nossas decisões, não tenta mudar-nos à força. É um gentleman no sentido mais elevado que essa palavra possa ter, aliás, é um gentlegod.

Ontem estava voltando do trabalho pelas ruas dessa Brasília mudada, que agora é puro congestionamento – e quando chove, então! – quando resolvi tomar o remédio que uso para não estressar: ter sempre um bom CD ao alcance. Enquanto o mundo pira, pareço uma louca cantando, dançando, orando, chorando dentro do carro. Peguei um CD de mensagem da Pastora Edméia Williams – aliás, recomendo – e comecei a ouvir. Ela pregava sobre o texto que posto aqui abaixo.

E chegaram as filhas de Zelofeade, filho de Hefer (...) e estes são os nomes delas: Maalá, Noa, Hogla, Milca, e Tirza; e apresentaram-se diante de Moisés, e diante de Eleazar, o sacerdote, e diante dos príncipes e de toda a congregação, à porta da tenda da congregação, dizendo: Nosso pai morreu no deserto, e não estava entre os que se congregaram contra o Senhor no grupo de Coré; mas morreu no seu próprio pecado, e não teve filhos. Por que se tiraria o nome de nosso pai do meio da sua família, porquanto não teve filhos? Dá-nos possessão entre os irmãos de nosso pai. E Moisés levou a causa delas perante o Senhor. E falou o Senhor a Moisés, dizendo: As filhas de Zelofeade falam o que é justo; certamente lhes darás possessão de herança entre os irmãos de seu pai; e a herança de seu pai farás passar a elas (Nm 27.1-7).

Logo que ouvi a leitura, comecei a viajar, pensando na grandeza dos personagens descritos na história. Já disse e repito: não é à-toa que se registram histórias na Bíblia. Há ensinamentos muito profundos que precisam ser absorvidos. É preciso meditar, ler, reler e reler para absorver parte do conteúdo. E por que digo parte? Porque A Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4.12). Não se esgota nunca.

Essa história tem muito a ensinar. Começo pela lição deixada pelas filhas de Zelofeade. Elas faziam parte de um tempo e de uma cultura em que mulher não tinha vez. Seu pai havia morrido e elas estavam, como ficava toda herdeira sem irmãos, na rua da amargura. Poderiam ter se resignado com sua triste sorte, mas resolveram pelo menos tentar algo diferente. Não tiveram medo de enfrentar a autoridade, de ouvir um “não”, da opinião alheia. Aliás, se fossem perguntar aos outros o que achavam, provavelmente teriam ouvido os conformados dizerem o mesmo que Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim”, ou seja: desistam.

Mais ainda. Hoje em dia, é muito fácil ser rotulado de rebelde. Os inovadores, os inconformados, os revolucionários costumam ser tachados de insubmissos, revoltosos, subversivos. Ai do mundo sem os inovadores, sem os questionadores, sem os inconformados! Por causa dessa submissão burra, as mulheres árabes estão como estão.

Além da coragem de enfrentar o grande líder Moisés, elas foram extremamente polidas no pedido. Não chegaram reclamando, não estavam nervosas, usaram o argumento certo. Às vezes, os pedidos são rejeitados pelo simples fato de que são feitos do jeito errado.

O segundo personagem também digno de admiração é Moisés. Tratava-se de uma questão antiga. Há muito que somente os filhos herdavam. Por que mudar algo que já se praticava há anos, que já estava enraizado na cultura? E mais. Ele tinha acabado de distribuir as terras conquistadas. Dizer que as mulheres poderiam herdar significava um grande trabalho de redistribuição. Era um novo começo para quem estava quase no fim. Mesmo assim, sabe o que ele fez? Levou a causa perante o Senhor. Como assim? Não era uma questão antiga? Pois é. A tradição não contou. Moisés foi perguntar ao Senhor.

Lembro-me do conselho que Paulo deu a Timóteo na sua primeira epístola: Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões (I Tm 2.1). Repito: antes de tudo, tudo mesmo, ore. São poucos os líderes que ousam admitir que não sabem tudo, não têm todas as respostas, não são o supra-sumo do conhecimento. Muitos nem admitiriam tal consulta. Moisés também tinha líderes abaixo dele que o ajudavam. A Bíblia fala que ele levantou líderes de mil, de cem, de cinquenta. Mas ele foi acessível. Não encaminhou as mulheres à liderança inferior e nem deu a questão por encerrada com base no que sempre aconteceu. Atendeu e foi humilde para dizer que, antes de responder o que parecia ser óbvio, antes de repetir o que poderia ter sido dito outras inúmeras vezes, consultaria o Senhor.

Por fim, vem o Maior de todos, o Autor da própria história: Deus. Como Ele é admirável! Há anos, via uma grande injustiça ser cometida contra as mulheres, mas não estava disposto a se intrometer em questões alheias. Já que não O chamaram para a conversa, ficou quieto, gentil e pacientemente esperando que fosse convidado a Se pronunciar. E surpreendeu: As filhas de Zelofeade falam o que é justo; certamente lhes darás possessão de herança entre os irmãos de seu pai; e a herança de seu pai farás passar a elas (Nm 27.1-7). Se você continuar a leitura do capítulo, verá que Ele disciplinou toda a linha sucessória. O que juristas passam anos discutindo estava escrito lá, há muito, muito tempo.

Até comecei a digitar aqui as lições que tirei de tudo aí, mas deletei. Prefiro deixar que você tire suas próprias conclusões.

Beijo.

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