terça-feira, dezembro 14, 2010

Criado para pouca coisa


Pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte (Lc 10.42).


Temos muitas necessidades. Precisamos ser amados, respeitados, aceitos, queremos e precisamos pertencer e aqui quero falar sobre nosso senso de propósito.
Queremos muito que nossa vida tenha significado, por isso perguntamos sempre o que Deus quer de nós. E muitas vezes isso nos estressa sobremaneira. Penso que é também por isso que oramos tanto pedindo ao Senhor que nos use. Não sei de onde foi que tiramos isso. Que pedido mais estranho esse de ser usado. Por que não podemos apenas viver, temos que ficar buscando um motivo, um porquê, uma razão para tudo? Por que pensar que Deus quer nos usar? De onde tiramos isso?
Não fomos feitos para sermos usados. A Bíblia não diz que Deus estava à procura de um reparador de brechas, de um adorador, de alguém que fizesse filhos ou que administrasse toda a criação quando resolveu criar Adão. Ele nos criou porque queria alguém com quem se relacionar e apenas isso. Não precisava de trabalhadores, de pregadores, de gente que orasse, que fizesse chover, que marcasse a história. Que história é essa que queremos tanto marcar? Que proveito há em tanta correria, tanta competição, tanta superação, tanto estresse?
É muito difícil admitir que fomos feitos apenas para o relacionamento e que isso é um prêmio e não uma maldição. É fato que Deus quer se relacionar conosco e que a iniciativa sempre parte dele. Mostre-me uma só pessoa na Bíblia que tenha iniciado essa busca. Talvez você me fale da mulher hemorrágica, do cego de Jericó, de Nicodemos e muitos outros. Sabe o que eu diria a você? Não foram eles que buscaram Jesus. Foi Jesus quem resolveu deixar seu trono a fim de vir procurar a todos eles, inclusive a mim.
Como é lindo ver Deus saindo do Seu lugar para encontrar-se com Adão toda viração de dia. E com que paciência agiu com ele quando este pecou.
Descobrir que fomos feitos para os relacionamentos deve tirar de nós um peso dos ombros. Tudo o que Deus quer de mim é que eu me relacione com Ele. O resto é resto. Trabalhar para Ele é complemento.
Do relacionamento principal fluem todos os outros. A Bíblia diz: Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros. Em vez de ficar correndo atrás das pessoas, tentando desenvolver habilidades políticas para ser agradável a todos, o que é literalmente impossível, é melhor tentar aprofundar o relacionamento com Deus. Jesus não agradou a todos, mas marcou a história do mundo e de muitas pessoas. Pode haver propósito melhor do que ter nascido para o puro deleite do Criador?
O Senhor, Teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo (Sf 3.17).
A partir disso que digo aqui dá para entender a resposta de Jesus a Marta. Muito agoniada ela recebeu o Mestre e resolveu fazer para Ele muitas coisas. Enquanto estava em sua casa, ela trabalhava como uma louca, enquanto sua irmã assentada ouvia a conversa. Imagino que Marta também queria muito ouvir a conversa, mas que imagem teriam de uma dona de casa que não faz as coisas a tempo, que não tem uma casa perfeita e impecável, de uma anfitrião que não recebe bem? Ela não só enlouqueceu querendo proporcionar mais do que dava conta como se irou ao ver sua irmã tão despreocupada. No fundo, ela havia descoberto o segredo do Mestre: foi feita para o relacionamento. Tudo o mais podia esperar.
Precisamos muito nos lembrar disso todo tempo. Não fomos feitas para limpar casa, lavar e passar roupa, digitar, comprar, vender... Fomos feitas para nos relacionar. O maior arrependimento que se pode ter na vida não é ter ou não comprado um carro, mas ter investido pouco tempo na vida de alguém.
Quanto mais andamos com Deus, mais descobrimos que, quanto mais perto dEle, mais Ele nos envia às pessoas. Toda pessoa que está se santificando, com certeza, está aumentando a qualidade de seus relacionamentos, amando mais e sendo mais amado, interessado no bem-estar das pessoas, crescendo em compaixão.
Sejamos como Maria, escolhamos a melhor parte: conviver com as pessoas.

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