quinta-feira, outubro 14, 2010

A História de Lia

Devo cumprir a promessa que fiz aqui no blog de falar sobre Lia. Encontrei com a Débora e ela me cobrou, então vamos lá.
Quem lê Bíblia sabe que Raquel foi chamada de linda, viveu uma história emocionante com Jacó, um homem que trabalhou por ela durante sete anos. Não houve momento em sua vida que Jacó não reafirmasse seu amor. O livro de Gênesis fala sobre como ela era preferida por ele todo tempo.
Para Lia, irmã mais velha de Raquel, sobrou apenas o adjetivo de uma mulher de “olhos baços”. Não é uma característica que eu gostaria de ter na minha biografia. Ela não foi amada hora alguma. Foi tão vítima quanto Raquel de uma história muito triste. Em um só golpe, seu pai feriu suas duas filhas: prendeu Lia em um casamento que nunca foi de verdade e frustrou os sonhos alimentados por Raquel durante sete anos. Ambas foram vítimas, ambas sofreram.
Já falei aqui sobre a postura de Raquel, sobre como essa história fez dela uma mulher amarga apesar de ser muito amada por seu marido. Agora é hora de falar sobre Lia. Quanta grandeza habitava nela! Não é à-toa que ela foi mãe dos filhos mais admiráveis de Jacó: o antecessor de Jesus, Judá; o pai dos sacerdotes e levitas, Levi.
A história dessa grande mulher foi complicada. Sabemos que sempre há uma certa competição entre irmãos. Tenho dois filhos que se comportam muitas vezes como gato e rato. Isso faz bem, faz parte do treinamento da vida, afinal o mundo é extremamente competitivo. A convivência com uma irmã magoada não deve ter sido nada fácil.
A Bíblia conta que Lia foi preterida por seu marido e tentou tanto quanto pôde fazer com que este a amasse dando-lhe tantos filhos quanto possível. Pense em como deve ter sido saber que não se é amada e ver os olhos de paixão estampados na face do seu marido e de sua irmã. Como deve ter sido duro ser uma pedra no caminho do casal apaixonado. Como deve ter doído implorar por uma noite com seu marido ou até mesmo ter de pagar por ela.
Ao que tudo indica, ter muitos filhos não funcionou, pois até o fim Lia esperou que Jacó se unisse a ela, mas ela tinha uma semente maravilhosa dentro de si, a semente da gratidão. Apesar dessa história tão complicada, Lia nos dá um grande exemplo. No nascimento de seu quarto filho, ela lhe deu o nome de Judá, que quer dizer louvor. Ela apenas louvou ao Senhor. Tentou, tentou, tentou ser amada, mas venceu a sua própria dor: esqueceu de si mesma e louvou ao Senhor. O nome de todos os filhos anteriores significava “meu marido vai se unir a mim”, "agora meu marido vai me amar”... No final, ela desiste disso e resolve apenas louvar.
Muitas vezes, para louvar é preciso esquecer a nossa própria dor. É exatamente isso o que Jesus disse aos seus discípulos: “Quem quiser vir após mim deve negar a si mesmo, tomar a sua cruz e me seguir”. Não acho que a cruz de Lia tenha sido menor do que a cruz de Raquel. Cada uma carregava a sua própria dor, mas Lia conseguiu ir além e ser feliz apesar de. Realmente ela era uma mulher formidável.

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